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Esta notícia vem dando o que falar nos muitos grupos de discussão da internet. Hoje, eu a recebi por e-mail e sou obrigado a comentá-la, pois é de uma leveza total. Espero que quem escreveu a dita cuja esteja lendo esta postagem e venha comentar aqui, assim como fez o colega Geneton quando falei da dele.

Como já disse em outras ocasiões, o jornalista brasileiro tende a ser sisudo e chega a um ponto de se fechar exclusivamente no assunto do texto a ponto de boa parte das matérias serem extremamente enfadonhas. Não é o caso desta.

Eis que o Santos está para contratar o meia Bolaños, hoje na LDU, campeoníssima da última Libertadores. Um jornalista que olha o leitor como mentecapto presumido até lembraria que é o sobrenome do Roberto que nos deu ao mundo o Chaves e o Chapolin. Aliás, a história do criador do programa Chespirito é pra lá de interessante e muitos comparam o mexicano a nada mais nada menos que Charles Chaplin.

Mas voltemos ao equatoriano e à postura vigente em boa parte do jornalismo brasileiro. Diriam algo como “ah, mas você tem de lembrar que nem todo leitor gosta de Chaves ou Chapolin. Falar disso pode espantar muita gente do assunto tratado”. E lá iria o jornalista escrever algo como “o Santos quer contratar o meia Bolaños, da LDU e blablablá (bocejos)…”. Você noticiou direitinho, mas garantiu também que sua matéria vá embrulhar peixe ou forrar gaiola de passarinho no dia seguinte.

Já a do Lance! vai ser lembrada daqui a dezenas de anos, tal como até hoje são lembrados os episódios do Chaves e do Chapolin e tal qual vemos camisas e mais camisas com a estampa de Seu Madruga (eu tenho uma também). Vejam que sutileza na hora de comparar os dois Bolaños:

O mais novo reforço do parceiro do Santos, o Grupo Sonda, tentará ser o segundo Bolaños a fazer sucesso no Brasil. O jogador, contratado nesta sexta-feira junto à LDU, tem o mesmo nome do criador e ator dos seriados mexicanos Chaves e Chapolin, Roberto Bolaños.

As duas séries, apresentadas pelo SBT, tiveram o ator como protagonista, já o meia, liderou a LDU na conquista da Copa Libertadores e tentará o mesmo sucesso com a camisa do Santos, que já tem Madson e Lucio Flavio no meio-de-campo.

Claro que até santista fanático deve ter caído no riso e imaginado Madson e Lucio Flavio caracterizados como Seu Madruga, Kiko, Nhonho e outros personagens. E deve ter caído no riso que é uma beleza. Como corinthiano que sou, também caí no riso, ainda que confessadamente, tirando uma certa troça. Claro que o Timão também teve jogadores bizarros e é bem viva em minha memória a zaga de 93, com Baré e Embu, ruins que só, mas que não deixavam passar nem vento naquele Brasileirão que deveria ter ido para o Parque São Jorge.

Santos é cidade praiana e tem muitos turistas. Porém, o mais famoso dos Bolaños esteve na praia e é muito lembrado por causa disso. Será que o equatoriano também será? Vejamos qual o prognóstico do periódico esportivo:

Chaves foi a Acapulco, já Bolaños, está perto de se firmar no litoral paulista. A diretoria santista ainda não o confirmou como novo reforço, mas o jogador já está confiante de que poderá passar a temporada perto da praia.

E o que dizer do quase rebaixamento do time da Vila Belmiro no Brasileirão de 2008, bem como o drama que isso ocasionou?

O meia chegaria ao clube para apagar a má campanha do ano passado, coisa que nem o Chapolin conseguiria evitar. O time lutou contra o rebaixamento até a penúltima rodada do Campeonato Brasileiro e se livrou após dois empates por 0 a 0 seguidos, contra Atlético-MG e Náutico. Falta de astúcia parecida com a do herói de vermelho e marreta biônica.

Sim, mesmo quem odeia o Chaves e adora o time do Pelé em contexto fanático religioso caiu no riso ao ver a comparação das situações. Aliás, talvez o Chapolin, se jogador de futebol fosse, usaria pílula de nanicolina e tentaria reverter o efeito quando estivesse na grande área, para ser o fator-surpresa do time.

OK, pode haver algum torcedor mais fanático que o mais fanático dos integrantes da Al Qaeda (se bem que isso existe em tudo quanto é time) e este poderia roubar um teco-teco e espatifar contra a redação do Lance! só para fazer uma maquete daquilo que vimos em 11 de setembro de 2001. Assim sendo, que façamos um meio-de-campo com os caras e os façamos terminar o dia felizes:

Mas o Santos trabalha para que o clima neste ano seja de alegria, como o da vila em que o barril de Chaves se situa. Só que a Bruxa do 71 está na lateral direita, onde o Peixe só pode contar com Luizinho. Antes que o setor comece a assombrar, como faz a vizinha, a diretoria busca alternativas. A última foi o ala Vitor, do Goiás.

Quantos aqui devem ter imaginado o tal Luizinho caracterizado como a dona Clotilde? Olha, terei de procurar uma foto do cara para imaginá-lo com um chapéu antigo e um birote, mas já o estou imaginando previamente. E, claro, o cara que planejava o tal atentado já deve ter caído na gargalhada e desistido de tal atrocidade.

Pergunto-lhes: o fato de fazer um paralelo tirou a força do conteúdo informativo da matéria? Acho que não preciso responder o que acho. E vocês, o que acharam?

Em tempos: o Bolaños da LDU chama-se Luis. Ao ver o link da matéria, vi que tinha uns corneteiros de plantão xingando o cara. OK, há pessoas que são pessimamente humoradas mesmo, mas será que o jornalista quer mesmo esse tipo de leitor quando está falando de esportes? Já disseram que o futebol é, das coisas menos importantes, a mais importante. Fico aqui pensando com que cabeça vão esses que chiaram com o texto em questão.

Infelizmente, vi gente que é tão ou mais blasé que a jornalistada que os acha idiotas a princípio. OK, há um certo grau de fanatismo em alguns comentários, mas mesmo assim, a matéria conseguiu o mais importante de tudo: não deixar ninguém indiferente.

PS: Aceito comentários que discordem da tal matéria, contanto que sejam respeitosos e falem totalmente da matéria. Qualquer argumento ad hominem, seja contra o escriba deste blog, seja contra o cara que escreveu a matéria não será publicado. O mesmo vale para aqueles que vierem com alegaçõezinhas batidas de que o Lance! seria jornal deste ou daquele time, posto que desprovidas de bases e provas sólidas. A eventuais fanáticos quase al-qaedistas como uns que vi na lista de comentários do link da matéria, aviso que os comentários aqui são pré-moderados, seus IPs aparecem aqui e fica relativamente fácil para saber quem são, em qualquer coisa. Comentaristas que sejam minimamente gente, podem ficar à vontade neste espaço, que também é de vocês.

PPS aos corneteiros sem-humor de plantão: vocês ficarem reclamando de tudo quanto é matéria diferentinha que se faz é uma das causas dos textos enfadonhos que vemos em boa parte da imprensa brasileira. Parem de reclamar e verão outros textos interessantes ganharem espaço e o prazer de ler uma boa matéria retornar.

A notícia já é ligeiramente envelhecida, mas vale a pena comentá-la. E o principal motivo é que ela fala da internet superando os jornais como segunda fonte de notícia mais procurada nos EUA, perdendo apenas para a televisão. Vale lembrar que aqui no Brasil, esse fenômeno já aconteceu antes e só agora muita gente grande se deu conta que está sendo superada.

Como não poderia deixar de ser, tenho de guinar o tema para o que fala este blog. E neste caso, dá para embutir aí o conceito da reação do leitor, tido como idiota por muitos jornalistas, contra estes.

Motivos não falta para que eu ache isso. É da natureza da internet ser um lugar aonde você procura a notícia e não é procurado por ela. O jornal e a revista, se você os assina, são jogados regularmente na porta de sua casa. A televisão, basta você ligar e ouvir o que o âncora tem a te dizer. Já este meio em que esta mensagem é escrita, não. Se você não sabe o que significa algo, bastará digitar em algum buscador e este te passará, por exemplo, um link da Wikipedia dizendo resumidamente o que é esse algo. A notícia é inclusive mais limpa esteticamente por conta dessa natureza, bastando ver o exemplo abaixo, que qualquer um é obrigado a explicar, uma vez que não é assunto que uma ampla maioria conheça ou tenha a qualquer noção:

Internet:

pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico

Meio escrito:

pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico (portador de empedramento dos pulmões causado por inalação de cinzas vulcânicas)

A palavra em si tem 46 caracteres. Na explicação do meio físico, você teve de acrescentar mais 81 (incluindo aí o espaço entre a palavra e o primeiro parêntese). Fosse só isso, não haveria maiores problemas. Porém, aquilo que o colega Geneton definiu como o enterro da imprensa teima em explicar tudo, achando que a pessoa a princípio nada sabe, isso para não falar do farto fornecimento de detalhes a perigosos extraterrestres que tenham chegado a este planeta sem saber qualquer coisa a respeito dele, mas com fins de dominação. Um clássico é “internet, a rede mundial de computadores”. Até minha falecida avozinha sabia o que era internet, mesmo que nunca tivesse mexido com a dita cuja e sua escrita remetesse às normas ortográficas dos anos 30.

Alguns teóricos da internet diriam que pôr um link tira a audiência de seu site, mas muito antes do advento das abas, já era possível pô-lo abrindo em outra janela, como é feito neste blog. Agora com a aba, basta apenas abrir uma, clicar, ler a dita cuja e voltar ao texto. Claro que alguns se esquecerão do que estavam fazendo, mas como imprensa é empresa, o pageview foi garantido e o dono pode esfregar os mesmos na cara dos anunciantes. Isso para não falar de soluções que permitem que a explicação esteja na própria página ou remetida para um glossário ou coisa parecida dentro do site em questão.

Ainda na parte ativa da internet e minha suspeita de isso ter sido uma das principais causas de ela ter superado os jornais em audiência, fica a coisa de poder comparar o que dois portais disseram e ver quem está com maior acurácia. Em uma aba, posso ter o Uol, na outra o G1 e em outra o Terra, todos falando da mesma coisa, isso para não falar da nova imprensa que surge e que já fez muito tubarão arrancar os cabelos antes de a Polícia Federal deflagrar operações de nome maneiro relacionadas.

Parte da questão da portabilidade foi resolvida. Quem tem um telefone 3G pode sossegadamente ler as tais notícias da net onde estiver. Dependendo do modelo, dá até para poupar os pacotes de dados e acessar em wi-fi. Claro que para moradores deste país, devido à grande presença de pessoas que invejam aqueles que trabalham honestamente e adquirem seus bens com o suor do rosto, recomenda-se não fazer isso em ruas ou lugares com muitas pessoas.

Sim, há no Brasil essa aspecto da segurança pessoal e da não-ostentação que pode ser um filão a ser explorado pelos jornais e revistas. Porém, é muito pouco, uma vez que poucos são os profissionais que ficam na rua o dia inteiro (e no caso dos jornalistas, eles estão ficando na rua menos tempo do que deveriam, uma vez que muitas empresas acham que a apuração exclusivamente telefônica serve para alguma coisa além de enganar o leitor). Boa parte dos profissionais de hoje tem em sua frente uma tela de computador e este computador ligado à rede. Portanto, pode ver a notícia acontecendo quase simultaneamente ao fato.

E para que servirão os jornais? Muitas empresas ainda não notaram que os jornais não sumirão, mas sim serão reinventados. Esquecem-se do maior conforto de leitura que uma fonte refletora de luz tem em relação a uma que emite. Quantos aqui conseguem ler um texto longo na internet sem que pareça que uma hora as letras andem pela tela? Só no presente momento que escrevo este compridinho, já pus as mãos na cara e cocei os olhos. Porém, quantos aqui lêem na boa não um jornal, mas um livro de mais de 500 páginas? Dúvidas? Vá a um ônibus ou metrô e veja o brasileiro normal fazendo isso.

Já a outra coisa é puramente jornalística mesmo. Apure (bem e usando o telefone só para primeiros contatos ou coisas pequenas) algo que a internet ou a TV não tenha dado e tenha certeza que seu meio impresso aumentará as vendas e terá leitores fiéis. Ah sim, que essa boa apuração esteja nas mãos de alguém que escreva bem, pois um texto envolvente faz qualquer um ler na boa 20 mil caracteres em uma sentada só. Claro que isso serve sem problema para a própria internet, que é escrita.

“Ah, mas o leitor não vai saber o que estamos falando. Nosso meio tem como público-alvo pessoas de pouca escolaridade e oriundas da aprovação automática”. Já parou para ver onde estão alguns desses? Qualquer dúvida, vá a uma LAN-house e verá uma porrada desses seus leitores-alvo. Quer ir para o humilde casebre de um deles? Corre o risco de ver um computador mais invocado que o da sua casa, e regiamente pago em dia. E, claro, com uma série de conhecimentos que nem de longe estão retratados nas redações que dizem pensar neles. Quanto tempo demorou para a imprensa, especialmente a musical, tomar conhecimento de fenômenos silenciosos do País, como o tecnobrega do Pará e o kuduro transplantado de Angola para a Bahia? Talvez ainda estejam alheios a isso. E talvez ainda achem que só entram na internet para ver Orkut e mandar currículo.

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