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Leiam na Carta Capital desta semana a matéria “Por linhas tortas”, que fala do I Salão Nacional do Jornalista Escritor, que fala também da qualidade média da imprensa nacional hoje em dia. Entre as fontes da reportagem, está o Eric Nepomuceno, que realmente desceu legal a lenha na imprensa brasileira.

Fala-se também do espaço cada vez menor que é dado à reportagem, o unanimismo dos meios de comunicação nacionais, entre outras. E há uma frase pra lá de interessante do Eric, que passo abaixo:

“Temos, de um lado, leitores mediocrizados e de outro, jornalistas medíocres. Então, dá tudo certo. Se você acostuma o consumidor a tomar leite com soda cáustica, após algum tempo ele vai achar normal. Só que o produto é uma porcaria”

Notaram a sutileza dos adjetivos? “Leitores mediocrizados” foi o que o Eric disse. Portanto, são leitores que sofreram uma ação para se tornarem medíocres. E, pior ainda, acostumaram-se a ser tratados como tal. Portanto, os mesmos leitores que liam coisas interessantes outrora. O que mudou foi a abordagem, em que se passou a dar atenção excessiva para uma minoria de leitores iracundos que mandam mensagens mal-educadas para a redação. Os jornalistas, que quase não trabalham fora da redação, acabaram tendo por padrão esse tipo de leitor e quiseram estender tal avaliação a todo leitor, sendo que esses últimos não escrevem com tamanha freqüência. E nisso, o ciclo ficou completo.

Há também o depoimento de Ricardo Kotscho, também falando do medo que o jornalista tem de ser demitido. Tudo bem que estamos em outros tempos, mas algumas coisas assustam tanto ou mais que nos anos de chumbo. “Ninguém acredita que pode mudar nada. Então, cruza os braços. Nem na época da censura vi comportamento tão medroso nas redações”, conta. E também lembra da vez em que no trainee da Folha desceu uma lenha no próprio jornal e em seu manual, o que lhe rendeu a pergunta de uma estudante sobre eventual medo dele de ser demitido. Sim, meus caros, hoje em dia, jornalista tem medo sim. Não o medo do que está lá fora. Mas o medo do que está dentro. Lembram-se daquela história de que o pior inimigo de um jornalista é outro jornalista? Acho que não é preciso se estender.

E também a reportagem fala do boicote que a própria imprensa faz quando ela é que se torna notícia. “Muitas empresas de comunicação nos ofereceram espaço publicitário e ajudaram a divulgar a idéia, mas depois nos esqueceram na reunião de pauta”. Esqueceram ou foram esquecidos?

Fui neste sábado a esse encontro, que está acontecendo no Memorial da América Latina. Chego lá com o primeiro evento começado, mas ainda a tempo de ouvir Mauro Santayana falando de seus tempos de cobertura da guerra da independência do Marrocos, da entrevista com Garrincha. Falou também do sofrimento que teve na época da ditadura, mas o fato de não querer indenização do estado por causa daqueles ocorridos. E também disse uma interessante: “você tem de fazer o leitor ter prazer em ler aquilo que escreve. Tem de dar um ligeiro barato”.

Também houve o Zuenir Ventura, excelente. Um debate que gostei foi o com Eric Nepomuceno, Antônio Torres e Flávio Tavares. Gostei em especial do Eric. Ele, até por estar fora do jornalismo, desceu a lenha legal na imprensa brasileira, na falta absoluta de ousadia, etc.

Houve o reconforto de ver Ziraldo, menino maluquinho de 75 anos. Falava ele de idéias para estímulo à leitura no Brasil, mais outras tantas que veio tendo. Falou também do sucesso que ganhou escrevendo livros para as crianças. E falou uma frase interessante, do Millôr: “escreva para seu leitor mais inteligente”. Emendou com isso a história de que se uma criança não sabe algo, imediatamente pergunta aos pais ou vai pesquisar por si própria. Engraçado como as nossas tão adultas matérias não fazem o mesmo com o leitor, forçando-o a sair de sua zona de conforto. Já pararam para pensar que se uma criança se sente tratada como idiota, imediatamente se afasta de quem a trata assim? Será mesmo que os meninos que cresceram, independente ou não de lerem Ziraldo, também fizeram a mesma coisa com os meios de comunicação tradicionais?

Por fim, houve o debate sobre a revista Realidade, com Mylton Severiano, José Hamilton Ribeiro e Ignácio de Loyola Brandão. Vale lembrar que a revista fazia “new journalism” antes de essa onda estourar nos EUA e os colonizados mentais se perguntarem por que ninguém fazia algo parecido por aqui. É mais ou menos como as pessoas que se surpreenderam com os primeiros raps americanos que aqui chegaram e não deixaram que pense, que diga e que fale. Hamilton Ribeiro também falava da época do copidesque, que pegava uma matéria, esquartejava-a e deixava-a uniforme com outras, passando a impressão de que todo um jornal tinha sido escrito pela mesma pessoa. E falou também sobre os copidesques e editores da Realidade, que respeitavam o estilo de escrita de cada jornalista e, mais ainda, muitas vezes melhoravam o texto do cara…

Enfim, uma ocasião daquelas que não esquecerei tão cedo. Foi uma oxigenada daquelas nas minhas idéias. Domingo é o último dia e terá gente boa, como Caco Barcellos e Mino Carta… vale a pena ir…

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