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Essa é uma representação esquemática de boa parte das redações brasileiras

Um dos grandes males do jornalismo de hoje é o uso excessivo do telefone para até mesmo fazer matérias inteiras. O aparelho que deveria ser apenas para se pegar detalhes que tivessem passado desapercebidos vai se tornando regra na hora de fazer textos, inclusive os maiores. E o pior de tudo é que as redações estão incentivando isso. Quem perde? Claro, o leitor, que não obstante ser tratado que nem um mentecapto, também vê matérias inteiras em que o repórter sequer foi respirar um ar fora da redação.

É o extremo do enxugamento. Não bastassem equipes bastante reduzidas, querem que elas não vão a campo. Há jornalistas que protestam contra isso, mas já há um número incrivelmente alto de colegas que se acomodaram a essa mediocridade. Fora outros que querem ir a campo, mas são tolhidos pela chefia.

E por que apurar por telefone é ruim? Pelo fato de não se olhar a fonte nos olhos, de não se poder captar detalhes que enriqueceriam a matéria e de, na prática, fazer-se quase o mesmo que alguém faria quando, por exemplo, pesquisa preços de um determinado produto. E sem o jornalista ver de fato, qualquer coisa fica na base do ouvi dizer. Fora ser refém do release da assessoria. Ou também da manipulação de certas fontes, que poderão fingir um tom de voz ou mesmo do outro lado lerem coisas que dizem ter feito, enquanto o jornalista acreditará piamente e sem a menor chance de desconfiar.

Além disso, enfurnar-se nas redações tira o conhecimento até mesmo daquilo que está praticamente do lado ou a poucos quarteirões. Torna a redação um ente alienígena até mesmo no entorno em que ela se localiza.

Decepciona-me muito quando vejo um meio cujos jornalistas, durante sua periodicidade, pouco ou nada saíram do bem-bom do ar-condicionado e do release praticamente caindo no colo. De certa forma, isso é também fazer o jogo da assessoria, que, claro, vai querer que o jornalista diga ao máximo aquilo que está no release e o mínimo de contestação possível, e em geral uma contestação bem superficial.

É válido sim o telefone em alguns casos. Tentar falar com uma estrela praticamente inacessível é um exemplo. Ou com alguém no exterior ou em outro estado a respeito de coisas simples. Mas tornar regra como está sendo hoje é pedir para comer barriga, pois enquanto os jornalistas ficam achando que tudo se resolve com algumas ligações, as coisas seguem acontecendo lá fora e sem possibilidade alguma de contatar a fonte por telefone.

Sua excelência, o aparelho que vem substituindo o gravador e o microfone. O que será mais caro: permitir que o repórter vá a campo ou a conta?

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