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Em meu ex-emprego na UM, meu colega Marco Antônio Lopes, um cara que considero bastante inteligente, certa vez falou em um dos almoços sobre uma tese que ele tem: a da brutalização da sociedade. Vizinhos não se conversam, o trânsito é aquela caca que bem sabemos e nas relações de trabalho, não fica muito para trás. Infelizmente, não lembrarei todo o conteúdo do papo.

De certa forma isso pode se refletir no tratamento de idiota presumido que se pratica com os leitores. O querer pôr toda a informação em cima e deixar nada embaixo é um quase que falar “sabemos que você não vai ler mesmo, pois é burro. Portanto, deixamos tudo no comecinho para ver se ao menos algo irá pescar”. Quando se vê a Globo ou mesmo outras emissoras falando algo como “o executivo de um fabricante de automóveis”, sem falar o nome da firma, sendo que ele é sim informação, é também a impressão de que “vocês são uns otários mesmo e nem sabem que o nome poderia aparecer se o mencionado pagasse para tal“.

Também pergunto se o excesso de explicações até de coisas bem simples não é uma forma de brutalização da sociedade no ambiente jornalístico, como se falasse algo como “toma, seus burros!”. Peço até desculpa aos poucos leitores deste blog se hoje não estou muito inspirado, mas aqui pode ser um caminho aberto para um debate interessante.

S�ntese do DNA, no carro da Unidos da Tijuca.

“Síntese do DNA? E você acha que o leitor vai entender o que é isso? Tira logo isso daí e reescreve a matéria. Nosso público quer sambão, não ópera. É para eles que você tem de escrever”

Aqui no Brasil, a subestimação da capacidade do leitor foi tanta que aconteceu não se deram conta da virada: hoje temos mais internautas do que leitores de jornal. E por que isso acontece? Pelo fato de na internet ser possível ir bem adiante. Não está explicado algo na matéria? É simples: clique em um mecanismo de busca e veja direitinho no que consiste tal coisa. E nessa, o leitor pode ler um texto pelo prazer de ler.

Na semana retrasada, conversava com um amigo meu não-jornalista, mas que tem de ler diariamente os jornais por conta da profissão (ele trabalha com vistoria de seguradora). Perguntei se ele tinha prazer em ler jornal. Responde-me que anda lendo por hábito. Nessa simples resposta, ele já denunciou que não acompanha com aquela atenção as matérias.

É opinião de certa forma semelhante à de Robert Fisk, jornalista inglês que há mais de três décadas cobre o Oriente Médio. Diz ele que as pessoas estão indo à internet porque os jornais estão muito chatos. Talvez se possa até estender a outros meios impressos. E por que estariam chatos? Talvez porque estejam pondo a matéria como se fosse a única fonte, em uma certa arrogância. OK, que o jornalista tem de responder ao quem, ao quando, ao onde, ao como e ao por que, tem. Mas há formas e formas.

A subestimação atinge principalmente as classes mais humildes, que podem ter sim escolaridade média menor, mas que nem por isso merecem ser tratadas como robozinhos que irão consumir um meio de comunicação em massa como se estivessem recebendo um arquivo de computador que está sendo instalado em suas cabeças, que por sua vez estão sendo vistas como um computador que acriticamente recebe qualquer dado, inclusive vírus e trojan.

O leitor subestimado em sua capacidade viu na internet a oportunidade de ser tratado como ser pensante. Há algo que ele não entende? Sem problemas. Procure em um serviço de busca ou na Wikipedia e acha-se algo rigorosamente esquematizado. Entendeu? Volta para o texto e o acompanha com muito prazer.

O leitor subestimado em suas capacidades e com menos posses também encontrou na internet seu porto seguro. Vá a uma periferia ou ao sertãozão e veja as LAN houses e os telecentros lotados. OK, tem gente que desperdiça o tempo de acesso para fazer joguinho no Orkut e gastar o tempo em papo vazio, mas lá também há pessoas adquirindo cultura e debatendo em fóruns (até mesmo os do Orkut, por muitos estejam empesteados de joguinhos e spam). O mesmo Mano Brown que nadou de braçada no Roda Viva lembra de um encontro de rappers de que participou no Sul e tinha gente de todas as regiões do Brasil. Como se comunicaram? Internet. Sobre rap, aliás, lembro do Sabotage, que sempre levava um caderninho e, ao ouvir uma palavra mais complicada, perguntava o que era e a anotava para pôr em uma de suas canções. Sim, canção consumida pelo povão nas perifas mais remotas.

Quem são os responsáveis pelo aumento do número de computadores? É gente que nunca comprou computador na vida. No Brasil, a classe C foi a maior responsável percentualmente pela compra de computadores nos últimos anos. Quantas pessoas de menos posses estão comprando computador não só por estar mais barato, mas também pensando algo como “estou cansado de ser tratado como idiota e ver o pai-nosso ensinado ao vigário”?

Gente humilde só anda consumindo coisa ruim quando essa é a única que suas posses podem atingir. Eles também gostam de ler o que lhes prenda a atenção e seja bom de ler. E é isso que a internet está lhes desnudando. E o que a grande imprensa tem feito? Já vimos campanhas contra os blogs e de resto, continuamos vendo muita subestimação. E por que alguém adquiriria algo que o subestima se de graça pode ser tratado como ser pensante? Talvez seja também isso que está por trás da queda de vendas de jornais e revistas no pós-internet.

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